Bebianno: “Você está obsediado, meu Capitão!”

© Ernesto Rodrigues/Estadão

Abaixo, a carta que Gustavo Bebianno escreveu ao Presidente da República, sob o título “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Bebianno morreu de infarte no sábado, não sem antes ferir o rosto e a cabeça no banheiro de sua casa em Teresópolis.

Meu Capitão,

Ao longo de dois anos, ouvi essa frase sair da sua boca quase todos os dias, como que de forma automática.

Isso, além de outras coisas, fazia-me acreditar que o senhor era um homem justo, bom, leal e amigo. Acima de tudo, corajoso!

Dediquei dois anos da minha vida para defender uma causa apelidada de Mito. E eu acreditei nesse Mito com todas as minhas forças, com todo o meu coração.

O senhor SABE disso. Por mais que, agora, o senhor tente banalizar tudo o que fiz, para alívio da própria consciência, o senhor SABE que não chegaria até aqui sem o trabalho que fiz (trabalho que só deu certo porque fiz, acima de tudo, com AMOR — amor que intensamente desenvolvi por você. Amor hétero, como costumávamos brincar).

O senhor mesmo costumava verbalizar essa verdade para algumas pessoas do nosso convívio. Essas pessoas também sabem, também conhecem essa verdade. Mas o que importa, de fato, é que o senhor, homem Jair Bolsonaro, SABE: sempre estive ao seu lado, e do seu lado, durante toda essa jornada, sem importar o preço a ser pago.

Ainda que o senhor bata a cabeça, tome remédios, se encha de raivas criadas por fantasias exóticas e curiosas, o FATO, a VERDADE, continuará lá no fundo da SUA consciência, impressa na SUA alma.

Por isso, não vou tomar o seu tempo dissertando sobre as coisas que fiz, acreditando estar, principalmente, trabalhando para o bem do meu país.

Mas, Meu Capitão, o senhor precisa acordar e cair em si.

O senhor está obsediado. Obsediado pelo próprio filho. Carlos precisa de ajuda e só o senhor tem esse poder. Não estou falando com rancor. Meu sentimento não é de raiva, acredite. Não tenho uma só gota de raiva do Carlos (a que tive, já passou, graças a Deus), porque ele precisa de ajuda. Isso é visível aos olhos de TODOS.

Falando dessa forma direta, o senhor talvez não entenda. Por isso, tentarei lhe explicar um pouco mais esse meu sentimento.

Carlos vive em uma prisão mental e emocional. Ele sofre intensamente em função do próprio ódio. Ele cultiva esse ódio contra tudo e contra todos, principalmente contra as pessoas por quem o senhor demonstra AFETO. E o senhor também sabe dessa VERDADE. Ele é consumido pelo ódio 24 h por dia, independentemente do que esteja acontecendo no mundo real.

A despeito do que, de fato, esteja acontecendo no mundo real, por melhores que possam ser as circunstâncias, Carlos continua odiando e sofrendo. Mesmo o senhor tendo alcançado o objetivo de ser eleito, ele permanece odiando. Ele aprendeu a ser assim e não sabe fazer de outra forma. Não é por mal, ele não tem culpa, simplesmente não sabe fazer diferente.

E o senhor tem alimentado essa situação. E isso só vai mudar quando o senhor RECONHECER A VERDADE.

Para manter o vínculo afetivo com ele, para manter a conexão física e emocional, o senhor embarca nessas fantasias, nessas paranoias, nas eternas teorias de conspiração.

Carlos aprendeu a ser assim com o senhor. Foi o senhor que o ensinou, desde pequeno, a viver em confronto. Vide o que assumiu contra a própria mãe, ainda quando jovem. Essas experiências deixam marcas, Capitão. A mente humana é muito profunda e complicada. É bom estar preparado para confrontos. Viver em permanente estado de beligerância nubla a mente e a existência.

O seu erro tem sido fazer exatamente o contrário daquilo que prega. O seu pecado é, nesse caso, não RECONHECER A VERDADE. E, portanto, não se libertar (nem libertar o próprio filho, que é o que mais sofre).

Ao agir assim, o senhor se mantém preso, mantém o seu filho preso, e gera um rastro terrível de destruição à sua volta. O senhor destrói os seus principais amigos e aliados. O senhor se torna uma pessoa injusta com os outros. Além disso, alimenta e incentiva o comportamento viciado do filho, impedindo-o de se libertar do ódio.

Tenha certeza de que, daqui a pouco tempo, o problema envolverá outra pessoa, e depois outra, e depois mais outra, num rastro interminável de ódio e destruição. Leia a Bíblia e veja as consequências invariáveis decorrentes do ódio. O ódio é uma energia terrível e incontrolável que tudo destrói. O ódio abre o canal de sintonia com o que há de pior no mundo espiritual.

Acredite: sem saber, sem querer e sem perceber, Carlos se tornou um canal aberto para influências espirituais negativas. Ele se tornou obsediado. E, por consequência, obsedia o senhor. Isso é um círculo vicioso terrível! O mal opera por aí. Ao contrário do que muita gente pensa, o mal nem sempre age pelas mãos de Adelios. Na maioria das vezes, age de forma ardil e sub-reptícia, pela mente de pessoas próximas a nós, que nos amam e a quem também amamos. Acredite nisso, Capitão.

O mal opera utilizando as fraquezas de cada um (ou, como se diz no jargão religioso, pelo pecado). Se a pessoa tem a tendência de beber, será influenciada a beber. Se a pessoa tem a tendência a sentir ciúmes, será colocada em circunstâncias propícias a sentir ciúmes. Se a pessoa tem a tendência de odiar, essa será a ferramenta usada).

No seu caso, essa é a chave por meio da qual o mal opera. É por meio do seu próprio pecado. O senhor cultiva e alimenta teorias de conspiração, intrigas e ódio, e ensinou seus filhos a fazerem o mesmo. O melhor discípulo foi o Carlos, pois é o que tem maior conexão espiritual com você. O problema é que ele é muito forte, muito intenso, e o senhor perdeu o controle sobre o “pitbull”. Hoje, ele morde aleatoriamente as pessoas, sem que o senhor consiga segurá-lo. Pior do que isso, quando o senhor tenta segura-lo, ele se vira e morde o senhor mesmo.

E, com esse canal aberto, o mal segue operando. Os obsessores instigam vocês dois a desconfiarem das pessoas e sentirem o ódio. Vocês ficam cegos e sentem o ódio contra alguém injustamente — como no meu caso — e atacam. A vítima do ataque também passa a sentir ódio, pois foi atacada (no meu caso, fui atacado injustamente em público). Ao sentir ódio, eu também tenho vontade de atacar, de retribuir a agressão. E, assim, o círculo vicioso se amplia, num rastro sem fim de destruição, cumprindo a missão dos obsessores que pretendem manter o BRASIL no mesmo padrão moral inferior.

Portanto, meu amado Capitão, só há uma forma de isso tudo acabar bem, em benefício do nosso BRASIL.

O senhor precisa romper esse ciclo de ódio. Do fundo do seu coração, do fundo da sua alma, com toda a sua força. O senhor é um homem bom, justo, permita que isso venha à tona. Quebre os padrões negativos. Só o AMOR pode fazer isso. Só o amor tem o poder de salvar o Brasil e livra-lo das influências negativas que o prejudicam.

Peço perdão ao senhor pelos maus sentimentos que tive nos últimos dias.

O senhor pode ficar tranquilo. Vou embora em paz. Quero apenas que dê certo. Não posso crer que tudo o que foi feito tenha sido em vão.

Tenha a certeza que nunca o traí. Nunca fiz nada pelas costas. Nunca plantei nota desfavorável ao senhor ou a seus filhos, nunca vazei áudio. Não há complô algum. Talvez o senhor nunca enxergue isso. Mas minha consciência sabe. Isso é o que basta.

Minha missão chegou ao fim aqui. A sua, não. Reconheça seus erros (para si próprio). Faça um profundo exame de consciência. Limpe o seu coração. Recupere o Carlos pelo seu exemplo. Ele vai aprender. Ele é um bom garoto. Só precisa da sua ajuda.

Fique com Deus e um beijo no seu coração (hétero).

Morre Bebianno, ex-secretário geral da Presidência e Presidente do PSL.

© Ernesto Rodrigues/Estadão

O ex-secretário-geral da PresidênciaGustavo Bebianno, morreu aos 56 anos na madrugada deste sábado, 14, em Teresópolis, no Rio de Janeiro. A informação é do presidente estadual do PSDB Paulo Marinho. Segundo ele, Bebianno estava em um sítio com seu filho quando se sentiu mal, por volta das 4h. O tucano ainda disse que teria sido um ‘infarto fulminante’.

Bebianno foi levado para um hospital da cidade, onde morreu. O tucano foi coordenador da campanha de Jair Bolsonaro em 2018 e se aproximou do presidente no início de 2017. Ele se tornou presidente nacional do PSL quando Bolsonaro ingressou no partido.

“A cidade do Rio perdeu um candidato que iria enriquecer o debate eleitoral, e eu perdi um irmão. O Gustavo morreu de tristeza por tudo que ele passou. Agora é hora de confortar a esposa, os filhos e os amigos”, disse Paulo Marinho. Do Estadão.

Nota da Redação:

Nos regimes de exceção, os renegados ou traidores são os primeiros a morrer. É emblemático o caso de Alexandre von Baumgarten, então dono do título da Revista O Cruzeiro, que depois de ser informante do regime, preparou um dossiê sobre coronéis do SNI, que tinham se corrompido.

O plano de morte se constituía em um ataque com uma injeção letal, que simularia uma morte súbita. No entanto, algo deu errado e o corpo de Baumgarten acabou encontrado, 12 dias de depois do assassinato, em outubro de 1982, com três tiros na cabeça, na praia da Macumba, no Recreio dos Bandeirantes, Rio de Janeiro.

Bebianno não rezou nem a metade da missa na entrevista do Roda Viva.

Da coluna de Constança Rezende, no UOL:

Nos intervalos de sua entrevista ao programa Roda Viva de ontem, o ex-secretário geral da presidência, Gustavo Bebianno, relatou ter medo de falar tudo o que sabe sobre os atos que envolvem o presidente Jair Bolsonaro. Ao ser pressionado por jornalistas, fora do ar, respondeu:

“Está vendo aquele ali (apontando para o seu filho)? É o meu único segurança”, disse. O jovem era o único na plateia de convidados de Bebianno. O ex-aliado do presidente foi chamado às pressas para participar do programa, após o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, desistir de ser sabatinado.

Leia a íntegra da coluna clicando aqui.

Articulado, sereno, Bebianno mostrou-se na defensiva o tempo todo, como em outras entrevistas. Ele sabe com quem está lidando. O Calígula do Glicério é um homem completamente desprovido de sentimentos.

Veja aqui a íntegra da entrevista:

Ele é quem manda? Militares ocupam 100 cargos nos diversos escalões do Governo.

Bebianno com Bolsonaro: o primeiro grande arrependido.

Após pouco mais de dois meses de governo, a gestão Bolsonaro escalou militares para ocuparem cerca de 100 vagas de 2º e 3º escalões.

O levantamento foi feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, que destaca a presença dos militares tanto no chefia de ministérios quanto para atuação em bancos federais, autarquias e institutos, entre os quais o Ibama e o ICMBio.

A forte presença dos militares no governo pode ser justificada, entre outros fatores, pelo forte desgaste da classe política. Mas é óbvia a tutela que as Forças Armadas exercem no atribulado governo, cujas posições foram turbadas pelos filhos, os três meio fora da casinha, bem como de auxiliares diretos, como Gustavo Bebianno.

Bebianno confidenciou a amigos, que não escondem a afirmação:

“Preciso pedir desculpas ao Brasil por ter viabilizado a candidatura de Bolsonaro. Nunca imaginei que ele seria um presidente tão fraco”.

Bebbiano: “Nunca imaginei que ele seria um presidente tão fraco”

Do portal Metrópoles

Pivô de crise no governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e com a provável demissão a ser publicada nesta segunda-feira (18/2), o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, tem desabafado sobre a situação a interlocutores e amigos. Diversos jornais reproduzem, neste domingo (17/2), críticas do advogado e ex-presidente do PSL ao chefe do Executivo.

O colunista Gerson Camarotti, do G1, cita uma conversa de Bebianno com um amigo na qual o ministro condena a influência dos filhos do presidente no governo, sobretudo a do vereador Carlos Bolsonaro, que o chamou de mentiroso.

“Preciso pedir desculpas ao Brasil por ter viabilizado a candidatura de Bolsonaro. Nunca imaginei que ele seria um presidente tão fraco”, teria dito o secretário-geral da Presidência a um aliado.

No site da revista Época, o jornalista Guilherme Amado conta que Bebianno falou sobre Bolsonaro em conversa com um interlocutor. “Meu pai disse que era para eu trabalhar pelo Brasil, fazer o bem. Eu deixei de estar com meu pai na morte dele para estar com o Jair”, teria se manifestado o ministro.

As críticas mais pesadas foram noticiadas por Lauro Jardim, do jornal O Globo. De acordo com o colunista, Bebianno teria explicado a um aliado que “o problema não é o pimpolho”, em referência ao vereador. “O Jair é o problema. Ele usa o Carlos como instrumento. É assustador.”

Segundo Jardim, o ministro teria confessado que “perdeu a confiança” em Bolsonaro. “Tenho vergonha de ter acreditado nele. É uma pessoa louca, um perigo para o Brasil”, reproduz o jornalista.

Na Folha de S.Paulo, Mônica Bergamo registra uma conversa que teve com Bebianno. Na entrevista, ele nega ter dado as declarações publicadas por Jardim. “Estou triste com a situação, mas não chamei ele de louco nem nada. Agora, é o momento de esfriar a cabeça, buscar o equilíbrio e olhar para o futuro, olhar para o país”, disse.

Em tom moderado, o ministro relatou que prefere esperar o desfecho do caso para “esclarecer a verdade”. “Eu não vou sair com pecha de bandido, de patrocinador de laranjais ou de traidor.” No começo de fevereiro, a Folha publicou reportagem sobre financiamento de candidatos laranja do PSL, partido que Bebianno presidiu entre janeiro e outubro do ano passado.

Segundo Mônica Bergamo, Bebianno também negou o rumor de que teria documentos que poderiam estremecer o governo Bolsonaro e a permanência do ainda chefe no cargo. “Eu não vou fazer isso. O Brasil não merece. Eu não tenho nada a declarar sobre o presidente.”

Hoje será decidido: se Bebianno permanecer no cargo, Bolsonaro estará definitivamente desmoralizado, depois de chamado de louco.

Se cair, um general assume a Secretaria Geral da Presidência e Bolsonaro estará também definitivamente tutelado, interdito e curatelado. Mourão está doidinho para assumir o cargo. Sai do anexo do Palácio do Planalto direto para o quarto andar.

Militares e Maia agem para segurar Bebianno no governo

Preocupados com as crises geradas pelos filhos do presidente Jair Bolsonaro que interferem no dia a dia do governo, ministros se uniram nesta quinta-feira, 14, em defesa da permanência de Gustavo Bebianno à frente da Secretaria-Geral da Presidência.

O núcleo militar resistia a conversar com o presidente sobre o tema família, mas, após a última polêmica protagonizada pelo vereador Carlos Bolsonaro, o ministro Santos Cruz, da Secretaria de Governo, foi indicado para a tarefa. A intenção é que o ministro, general da reserva e um dos mais próximos do núcleo familiar do presidente, o alerte sobre os riscos para a governabilidade.

Bebianno ajudou na eleição de Maia para o comando da Casa, contrariando o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), que preferia um nome do PSL.

“Ele é um ótimo interlocutor, mas quem escolhe ministro é o Presidente”, afirmou o presidente da Câmara.

A preocupação é de que o ambiente conturbado do Executivo contamine o Legislativo e atrapalhe a tramitação da proposta de reforma da Previdência, que deverá ser enviada na próxima semana ao Congresso (mais informações no caderno de Economia).

Menos enfático, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse que Bebianno não tinha “obrigação” de acompanhar “tantas candidaturas” no País.

A operação segurou Bebianno no cargo pelo menos até o fim da noite de quinta. Apesar disso, o presidente mantém o ministro na geladeira e não o recebeu, como estava previsto.

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, chegou a preparar um encontro entre os dois, o que não ocorreu.

Em entrevista à revista Crusoé, Bebianno reclamou que está “sendo jogado aos leões de maneira injusta” e avaliou que Bolsonaro tem receio de que o caso envolvendo suspeitas de candidaturas laranjas do PSL possa “respingar” nele.

Bombeiro

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