Por Franciel Cruz, para o jornal Sul 21
Duas ásperas tragédias assombram a Bahia neste ano da graça de 2012: a seca e a indiferença. Enquanto a estiagem cresce de modo exponencial, as manifestações de solidariedade praticamente inexistem. O silêncio dos mais diversos setores sociais é inversamente proporcional aos assustadores dados relacionados ao flagelo. Para que se tenha uma ideia concreta, de janeiro até o final de maio, o número de municípios em situação de emergência saltou de 43 para 244, atingindo mais de dois milhões e 700 mil baianos que penam no castigado semiárido. No entanto, apesar de tantas e tamanhas dores, não existiu uma mísera campanha de mobilização para amenizar tais efeitos. Nem mesmo o apelo financeiro, fala-se em mais de R$ 100 milhões de prejuízo, tem conseguido atrair o interesse das almas benevolentes.
Os sociólogos de bodega podem argumentar, não sem razão, que tais movimentações nunca vão resolver os ancestrais problemas da seca. É fato. Eles podem dizer também, do alto de suas sábias negligências, que são necessárias políticas permanentes para a convivência com a estiagem. Perfeito. De barriga cheia, é fácil teorizar sobre a fome alheia.
O problema, amigos de infortúnios, é que, na falta das fundamentais e efetivas ações dos governos, que demoram mais de chegar do que a chuva, os atos solidários sempre desempenharam um papel fundamental para abrandar o perverso quadro. No entanto, neste ano da graça de 2012, nem isso. A Bahia, repito, tem sido vítima de duas ásperas tragédias: a seca e a indiferença.
Nunca antes na história deste país se viu tamanho descaso. As redes de TV, que normalmente estão a postos para faturar com as lágrimas alheias, não esboçaram, até este momento, qualquer campanha para sensibilizar a população. As igrejas, idem. Até mesmo as novidadeiras redes sociais, sempre tão afoitas para abraçar causas comoventes, permanecem num estranho mutismo diante de tão grave e urgente questão. Não houve sequer um mísero jogo beneficente.
O que explica tamanho desinteresse? Francamente, desconheço. Aliás, pior. Não compreendo. O alheamento é tanto e tamanho que atinge a todos nós. A seca não está em nossas pautas ou prioridades, nem mesmo como catarse. Nos bares, becos, vielas e ladeiras desta província lambuzada de dendê o tema não existe. É como se alguma mão divina (ou maligna) tivesse colocado a problemática no index prohibitorum, numa espécie de macabro pacto de alheamento. Continue Lendo “Seca e indiferença, as duas tragédias da Bahia.”

