Brasil – Reflexões sobre a injustiça.

Por Joel Ferreira Ribeiro, advogado

Mais uma vez fui convidado para escrever neste jornal. Inicialmente pensei em exaltar a importância político-econômica do município de Luiz Eduardo Magalhães, por ocasião de seu aniversário que será comemorado no dia 29 de março próximo. Embora sua tenra idade destaca-se como líder na região do oeste baiano, despontando com significativos índices na produção nacional de grãos e no uso de inovações tecnológicas a guisa de maior eficiência para o agronegócio e desenvolvimento humano.

Todavia, embora a importância da data – aniversário da cidade – o brilho da festa é ofuscado diante de tantas manifestações, passeatas e movimentos de toda a ordem que espocam em cada rincão do Brasil. Esses levantes em busca de, simplesmente, melhores dias para todos, trazem à tona a flagrante INJUSTIÇA que se colore dos mais variados matizes; que está arraigada em nosso país desde sempre; que entra governo e sai governo e nada se modifica.

A INJUSTIÇA que ora abordo tem uma conotação difusa tendo em vista as necessidades prementes do cidadão que são sistematicamente adiadas ou ignoradas por nossos governantes.

O governo federal adotou como seu lema midiático a expressão “BRASIL UM PAÍS DE TODOS”. Indaga-se. Todos quem? Num país com a maior carga tributária do planeta e que presta serviços como se fosse uma republiqueta quebrada, evidentemente que não é um país de todos, mas um país de poucos.

As INJUSTIÇAS se avolumam a cada instante, enquanto isso o dinheiro público é mal versado e desviado com pagamentos espúrios de comissões, superfaturamentos, corrupção, licitações fraudulentas, e até mesmo o transporte aéreo para político influente fazer implante de cabelo em Recife.

Que país de todos é esse, onde as pessoas sucumbem às dezenas, diariamente, nos corredores dos hospitais, nos assaltos das esquinas, nas favelas dominadas pelo tráfico de drogas, na verdadeira guerra civil na qual estamos enterrados até o pescoço?

Que país de todos é esse que se dá ao disparate de gastar, por exemplo, 1,6 bilhão de reais para erigir um estádio de futebol em Brasília, e se preparando para moer mais cerca de 300 milhões nas obras ao seu redor? Brasília sequer tem uma equipe de futebol.

A Justiça, por Marília Chartune.
A Justiça, por Marília Chartune.

Em situação completamente oposta, o Hospital de Base, o maior da rede pública do Distrito Federal, que dista no máximo 1 Km do Estádio Nacional, está em ruinas e se decompõem juntamente com os cadáveres de seus corredores, que protagonizam um quadro digno de pinceladas dantescas e que retrata o antagonismo das prioridades governamentais e das necessidades reais.

Que país de todos é esse em que o “padrão FIFA” se impõe sobre a soberania nacional modificando a nossa legislação para facilitar a incineração de dinheiro público sem a regular fiscalização dos órgãos competentes?

Que país de todos é esse que não tem pudor de calcinar quase 700 milhões de reais para a construção de uma “Arena” em Manaus, enquanto a população manauara morre afogada, não no rio Amazonas mas nas mazelas e injustiças sociais que se arraigaram nas entranhas de nosso Brasil?

Que país de todos é esse em que o ladrão de galinhas recebe os rigores da lei e, a mesma lei é violentada para permitir que uma camarilha de malfeitores de gravatas desfrute de benesses e tratamento diferenciado no cumprimento de suas penas, como noticiado em revista semanal de circulação nacional?

Historicamente o Brasil, ou melhor, nossos governantes, nunca tiveram uma preocupação com o ser humano que compõe o nosso povo, a propósito, o saudoso antropólogo e escritor Darcy Ribeiro dizia que o Brasil tem o hábito de queimar gente: “O Brasil sempre foi, ainda é, um moinho de gastar gente. Construímo-nos queimando milhões de índios. Depois queimando milhões de negros. Atualmente estamos queimando, desgastando milhões de brasileiros mestiços”.

Darcy Ribeiro morreu há vinte anos e a colossal fogueira de queimar gente continua ardendo e com tanto combustível que transformaria Tomás de Torquemada – o “foguista” do Santo Ofício – num réu em processo da competência de juizado especial.

A INJUSTIÇA ganha os holofotes sob diversas facetas e necessidades, sejam de cunho social, econômico ou judiciário, e isto porque a JUSTIÇA é falha, tardia, se equivoca e resignada, e quando ela é feita não merece os refletores, eis que é cega – não precisa deles – essa é a sua função.

Com o passar do tempo os brasileiros, antes guerreiros foram assumindo uma postura cordata, frouxa, uma letargia coletivizada e indiferente às desigualdades brutais que assolam todo o nosso território e cidadãos.

O Brasil tem sim um passado de guerras, revoluções e levantes como a Revolta dos Cabanos que irrompeu em Pernambuco e Alagoas em 1832/35; a Cabanagem em 1835/40 a mais sangrenta de todas as revoluções do Império e que proclamou a independência do Estado do Pará; a Revolta dos Malês, em 1835 na Bahia; A Sabinada, também na Bahia em 1837, que proclamou a independência da República Baiana; a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul, 1835/45, foi a revolta que mais ameaçou a integridade do território brasileiro foi declarada a República Rio-Grandense; em 1842 Teófilo Ottoni liderou em Minas Gerais a Revolução Liberal; a Balaiada ocorrida no Maranhão em 1838, e tantas outras.

Ocorre que depois veio uma paz inebriante que nos colocou em um sono profundo, ao ponto de o povo estar alheio às articulações pró-república, tramadas à sorrelfa por Benjamin Constant e Francisco Glicério o que desaguaria na queda do Império.

Aliás, a proclamação da República em 1889 foi acidental, como escreveu à época o jornalista francês Max Leclerc: “A revolução está terminada e ninguém parece discuti-la. Mas aconteceu que os que fizeram a revolução não tinham de modo nenhum a intenção de faze-la e há atualmente na América um presidente da República à força (…) Deodoro desejava apenas derrubar um ministério hostil. Era contra Ouro Preto (Visconde – Chefe de Gabinete do Império). A Monarquia caíra. Colheram-na sem esforço como um fruto maduro, Ninguém levantou um dedo para defende-la”.

Agora parece que o gigante despertou de uma hibernação quase glacial, inicialmente com o movimento das DIRETAS JÁ e recentemente com as manifestações que se agigantam em todos os cantos e eclodem como furúnculos trazendo à luz a podridão sistêmica que domina o cenário nacional.

Por seu turno, o governo do “País de todos” se omite pateticamente buscando elaborar às pressas uma legislação fascista e antidemocrática visando amordaçar a qualquer preço o grito das ruas.

Mormente os dramas nacionais e os dias cinzentos que se descortinam e se avizinham encerro cumprimentando a cidade aniversariante. Parabéns Luís Eduardo Magalhães!

O poder inebriante da Copa do Mundo.

“Embora as mazelas localizadas e pontuais de cada País e de cada Povo, estamos em clima de Copa do Mundo e não podemos evitar, isso é contagiante.”

Joel Ferreira Ribeiro, intimorato advogado gaúcho, nascido em São Borja, sobre as barrancas do rio Uruguai, hoje nas lides jurídicas do Oeste baiano e do Distrito Federal, mostra, em lúcido artigo, que nenhum brasileiro está indene às disputas da Copa do Mundo. E demonstra como o Brasil está sofrendo goleada de 5×0 pela África do Sul. Veja o artigo na íntegra. Continue Lendo “O poder inebriante da Copa do Mundo.”

Os Escravos do Voto.

O advogado Joel Ferreira Ribeiro, articulista exclusivo do Jornal O Expresso, escreve instigante artigo sobre o momento político em que vivemos. Ele é incisivo e consolida texto definitivo sobre o assunto quando afirma: “O voto nos escraviza e nos liberta. Se elegermos os candidatos que se valem da estrutura pública para autopromoção; que fazem campanha eleitoral antes do tempo; que espalham a mentira travestida de verdade, continuaremos reféns e escravos.” O artigo:

O ser humano, ao longo da história busca por uma incansável evolução, em todos os sentidos, ou seja, sempre empreendeu seus esforços por uma vida melhor, por dias melhores, por conforto, etc..

Em nome desse progresso, dessa evolução, ou qualquer outro nome que se queria dar, muitas guerras foram declaradas, muitos tribunais foram criados, tiranias constituídas, impérios ruíram, forcas e guilhotinas se disseminaram mundo afora.

A evolução e o progresso da humanidade está visceralmente ligada ao PODER e os detentores desse poder determinam os destinos dos demais, seus escravos anônimos e idiotizados, pois sequer percebem a escravidão.

Outro dia recebi uma mensagem eletrônica com uma carta que um cidadão endereçou ao Presidente da República, onde expõem com extrema clareza e desenvoltura todos os desmandos do governo federal, que, aliás, ecoam pela maioria dos governos estaduais e municipais do Brasil. Continue Lendo “Os Escravos do Voto.”