Há muitos anos li Todos os fogos o fogo (1966), do escritor franco-argentino Julio Cortázar (1904-1984). Fui buscar referências na internet, por ver notícias sobre congestionamentos monstruosos de trânsito em São Paulo, uma insanidade. Nem lembro de todo o livro. Um blogueiro descreve:
“Dos oito contos que compõem a obra, o primeiro, A autoestrada do sul, ele descreve um engarrafamento de Fointeneblau a Paris que se arrasta por meses e faz com que os participantes de tal engarrafamento (identificados apenas por suas ocupações e pelas marcas de seus carros, como, por exemplo, o engenheiro do Peugeout 404, as freiras do 2HP, etc..) vivam situações inusitadas. Nesse ínterim, novas e curiosas relações vão se construindo e quando o leitor menos espera o engarrafamento enfim termina e os carros voltam à sua mecânica e acelerada marcha.”

São 7 milhões de veículos circulando diariamente em São Paulo e nada vai resolver, a não ser a medida sensata de só permitir veículos de serviço e coletivos de uma vez por todas. São Paulo já parou. Agora tem que recomeçar do zero. E os carros? Devem ficar estacionados, em grandes estacionamentos públicos, fora do grande anel viário, o rodoanel, servindo aos seus donos somente em caso de viagens ao interior. E a determinação mais cruel: antes de comprar um carro, os futuros proprietários terão que provar a posse, mesmo que transitória, de uma vaga num desses estacionamentos fora da cidade. É ou não uma história de realismo fantástico como a de Cortázar?


