
Guerra.



Quem viveu a história política brasileira a partir do fatos ocorridos em 1º de abril de 1964, como este editor, não deveria deixar de ler a excelente entrevista de Luís Fernando Veríssimo, o cronista, escritor, roteirista, quadrinista e principalmente humorista gaúcho que povoou nossas leituras.
Ele entrou na redação de Zero Hora, ainda na rua Sete de Setembro, como redator – copy-desk como se dizia na época – já entrado nos 30 anos, por volta de 1968, o ano que ainda não acabou. Nos mesmos dias em que eu, primeiranista de Comunicação Social, começa a viver aquele mundo fascinante da reportagem. Destoava de nós, jovens gritões e mal educados durante o caos em que se transformava a redação de um jornal na hora do fechamento da edição. Era educado, gentil, tímido e, principalmente, silencioso: falava baixo e de maneira mais discreta possível.
O talento enorme logo o transformou em colunista de Zero Hora. E num repente sua coluna estava sendo reproduzida nos principais jornais e revistas do País, a par do surgimento de inúmeros livros, onde seguia a carreira do pai, Érico Veríssimo, este meu conterrâneo da velha e valerosa Cruz Alta.
Logo sumiu da redação. Como colunista e escritor no auge da fama já não se deslocava mais de sua casa. Mandava as suas colunas via fax de casa ou da MPM – então a maior agência do País – onde se destacava como o criativo criador de campanhas para a Ipiranga.
Agora, depois de mais de 40 anos, foi demitido como colunista contratado. A Zero Hora continuará publicando sua coluna como contratado da Agência Globo. Segue trabalhando, como exemplo de jornalista e cidadão do seu tempo.
Veja aqui a excelente entrevista de Luís Fernando Veríssimo no jornal Extra Classe.

Por Luis Fernando Veríssimo
Não desespere. Se a humanidade lhe parece desprovida de caráter e autocrítica, movida pela ganância e a cupidez, odienta, suja, podre, nojenta e má, sem nada que a redima, confie em outra característica humana, que é o arrependimento. É preciso acreditar que, cedo ou tarde, as pessoas se arrependem do que eram ou fizeram e se retratam, e podemos voltar a confiar no ser humano.
Temos muitos exemplos disso à nossa volta. Sim, bem aqui, neste país que, a julgar pelo noticiário, chafurda num atoleiro moral sem precedentes. Na própria Operação Lava-Jato, que desnuda diariamente as mazelas brasileiras, temos tido casos de remorso que reacendem nossas esperanças. Grandes empresas, acusadas de comprar contratos e vantagens com propinas para políticos e partidos, arrependeram-se e pedem leniência para poderem, modestamente, continuar a trabalhar.
Em troca, prometem devolver o dinheiro desviado nos casos investigados – não, claro, o lucro produzido em muitos anos fazendo a mesma coisa sem chamar a atenção, o que já seria demais – e fazer penitência. Duas aves marias e três padres nossos e não se fala mais nisso. Que bonito.
Há outros exemplos edificantes. Um dos delatores da Operação Lava-Jato fez uma delação premiada, arrependeu-se dela e fez outra, desmentindo a primeira. A primeira não agradou aos investigadores, a segunda, sim. Porque, além de tudo, veio abençoada pela bela virtude do arrependimento. Que se saiba, o delator repetente continua delatando, em homenagem ao seu remorso exemplar.
Lula e o PT, segundo partido mais citado nas investigações sobre propinas (o primeiro é o PP, cujo envolvimento, estranhamente, não parece interessar muito aos investigadores e ao noticiário), têm dado mostras de arrependimento, ainda não explícito, mas bastante promissor. Talvez um remorso mais evidente pelos seus erros (cinzas sobre a cabeça etc.) ajude a salvar o PT.
E agora temos uma confissão de remorso surpreendente, partindo do PSDB, que, imaginava-se, não precisava fazer penitência porque nunca pecara. O deputado baiano Antônio Imbassahy, novo líder do partido, reconheceu que o PSDB optou por sabotar o ajuste fiscal e cometeu o que chamou de “outras extravagâncias” com a única intenção de atrapalhar o governo, mesmo prejudicando o país.
O Imbassahy não pede desculpa ao país, mas promete que a irresponsabilidade não se repetirá porque “não cabe à oposição fazer coisas malucas”. Ou seja, quando perdeu a eleição, o PSDB ficou maluco, mas já passou.
E o Imbassahy se arrependeu, gente. Há esperança.
O genial Frank alugou a personagem do Analista de Bagé, de Luís Fernando Veríssimo, que está hospitalizado em estado grave, para mandar o recado de todos que aprenderam a amar a obra do gaúcho. Luís Fernando foi meu primeiro copy-desk, na Zero Hora, ainda na Sete de Setembro. Concordamos que todos vamos desembarcar desta nave mãe, mas os bons deveriam ficar por mais tempo. E Luís Fernando é muito bom!