Um sonho que levou quase meio século para tornar-se realidade

eu tenho

Há 53 anos, na esplanada do Memorial de Lincoln, em Washington, Martin Luther King, proferia o seu célebre discurso: “Eu tenho um sonho…”. Cerca de 200 mil pessoas marcharam pelo fim do preconceito racial.

Ainda existem diferenças raciais e intolerância nos Estados Unidos. Mas há mais de 7 anos um presidente negro governa a maior potência econômica e militar do Mundo. A sua campanha começou naquele dia 29 de agosto de 1963.

Martin organizou e liderou marchas a fim de conseguir o direito ao voto, o fim da segregação, o fim das discriminações no trabalho e outros direitos civis básicos. A maior parte destes direitos foi, mais tarde, agregada à lei estado-unidense com a aprovação da Lei de Direitos Civis (1964), e da Lei de Direitos Eleitorais (1965).

Ele foi assassinado cinco anos depois do grande dia, em Memphis, Tennessee, por radicais. Era o dia 4 de abril de 1968, o ano que nunca acabou, principalmente nos Estados Unidos, na França e no Brasil. O seu sonho começava a realizar-se.

 

Começou um grande cinquentenário

Por Élio Gaspari, em O Globo

Começou ontem o cinquentenário de um grande ano de 401 dias. Ele durou da manhã de 16 de outubro de 1962, quando o presidente John Kennedy foi informado de que havia mísseis soviéticos em Cuba, até as 12h30m de 22 de novembro de 1963, quando Lee Oswald apertou o gatilho em Dallas. Período igual a esse só se repetirá em 2039 nos cinquenta anos dos levantes do Leste Europeu.
Na encrenca dos mísseis, produziu-se a crise internacional mais bem documentada da História. Em Dallas, o assassinato mais estudado de todos os tempos. No meio, o mundo esteve a um passo da Terceira Guerra e Martin Luther King contou a uma multidão que tivera um sonho.
Kennedy gravou reuniões e telefonemas na Casa Branca e, com o tempo, recolheram-se preciosos depoimentos de soviéticos. (Os colaboradores do presidente foram instruídos a tirar suas famílias de Washington. Os russos também.) Nesses treze dias Kennedy fechou o momento estelar de sua presidência. Ele chegou a brincar com Bob: “Agora posso ir ao teatro.” (Era uma agourenta referência a Abraham Lincoln, que tomou um tiro na cabeça enquanto assistia a uma comédia.)
Há poucos dias Leslie Gelb, ex-presidente do Council of Foreign Relations, sustentou que, se Washington tivesse contado ao mundo que, secretamente, aceitara tirar os foguetes americanos da Turquia, os Estados Unidos sairiam da crise sem a auréola que estimularia o estilo Rambo de política externa. (Em setembro de 1963, o Departamento de Estado produziu uma diretriz para o Brasil, recomendando que, se houvesse um movimento para depor o presidente João Goulart, o novo regime deveria ser reconhecido rapidamente. Dito e feito.)
Kennedy tinha alguma simpatia por Martin Luther King, mas não fez muita fé quando ele lhe disse que planejava uma manifestação aos pés do memorial de Lincoln. Temia que a choldra urinasse no obelisco de Washington. Usou o encontro com King para ameaçá-lo, insinuando que a vida sexual do reverendo estava vigiada. O reverendo fez que não ouviu e Bob Kennedy acautelou-se, mandando instalar sanitários móveis na esplanada da capital.
Nessa altura, Lee Harvey Oswald (foto), um ex-fuzileiro naval de 23 anos, já comprara um rifle de mira telescópica. Tudo na sua vida dera errado. Decidira matar alguém, tentara assassinar um general direitista, e errou o tiro. Às 12h30m de 22 de novembro, pela primeira vez, acertou.