
Nos meus primeiros tempos de redação de jornal, havia duas editorias bastante especializadas: esportes e polícia. Não se misturavam com ninguém e o pessoal da Polícia não se cansava de mostrar que era superior, porque convivia com a realidade do baixo mundo, onde a vida já naquela época valia muito pouco. Eram semianalfabetos e isso dava muito trabalho para o copy-desk, que tentava colocar seus textos dentro do padrão do manual de redação. O pessoal da política, no entanto, era boa praça. Conversava, contava histórias impublicáveis dos políticos, quem comia quem, etc e tal. Lembro da cobertura da Câmara e da Prefeitura, que era feita pelo Melchiades Stricher, figura fantástica, sempre com seu cachimbo fumegante. Ou do João Carlos Terlera, repórter de primeira, da qual fui redator na Folha da Manhã. Hoje, ao folhear virtualmente os jornalões e as revistas, tenho uma sensação muito estranha: as editorias de polícia e de política estão praticamente se fundindo, tantos são os crimes cometidos por políticos e tanto são os criminosos se amparando ou financiando os políticos. O tempo ruge e com ele ruge também sua capacidade de fazer as pessoas cada vez piores.
