Memórias do cárcere de Madame Almerinda.

Madame Almerinda descobriu tudo sobre Damares, a devassa. | Jornal O Expresso

Madame Almerinda, senhora de todos os sortilégios, a maior astróloga batucatólica de orientação evangélica de todo o extenso território do Oeste baiano, minionzete cloroquinada de primeira hora, depois de um longo período homiziada, desde o famigerado 8 de janeiro, me ligou esta semana:

-Meu douto, por que não dizer insigne periodista…

-Madame, a senhora foi libertada? Pensei que ainda estava presa na Papuda.

Ela nega a prisão com veemência, mas começou a usar saias compridas de cigana para esconder a tornozeleira. Na verdade, ela foi uma das passageiras da agonia, que viajou em ônibus fretados rumo a Brasília, cantando a plenos pulmões “Eu te amo, meu Brasil”

Eu te amo, meu Brasil, eu te amoMeu coração é verde, amarelo, branco, azul anilEu te amo, meu Brasil, eu te amoNinguém segura a juventude do Brasil

-Nunca estive presa, meu caro jornalista.

-Não é o que eu sabia, cara Madame, que a senhora sempre foi “azeitona” e fez campanha para o Genô. Me conta como era a vidinha na Colmeia?

Sem clientes no seu escritório de IA (Inteligência do Além); sem dinheiro, que o Oziel anda meio arredio; abandonada pelo boy-lixo, que nunca foi visitá-la no cárcere, ela desmonta:

-Meus sonhos nas noites mal dormidas, meu caro, era um café-com-leite bem quente com bolachinhas FF. E ainda tinha uma sapata que se insinuava para mim. Que nojo! Tu sabes que a fruta que eu gosto é outra. Sofri muito.

O telefonema se interrompe, alguns minutos, por soluços sincopados. Respeito o pranto dorido.

Depois, parecendo recuperada do momento, ela, num arroubo de patriotismo, ainda me concita:

-Não há de ser nada, meu caro jornalista. Estamos prontas, eu e minhas amigas, para as eleições municipais de 2024 e para as federais de 2026. Vou transferir meu título eleitoral para Barreiras e votar no Tito e no Rangel. Só não voto mais no “descalcificado”.

Prontamente, cioso da língua de Camões, corrijo-a:

-Não é descalcificado, Madame, é desclassificado!

Ela, no entanto, resiste:

-É descalcificado mesmo, jornalista. Carência de cálcio. Por que ninguém pode levar tanto chifre sem ao menos lhe apontar na testa um bom par de cornos.

Pano rápido.