Sérgio Cabral e o tal do fogo amigo

O jornal O Dia, do Rio de Janeiro, está queimando o governador Sérgio Cabral e suas relações incestuosas com o empreiteiro Fernando Cavendish, cuja filha e neto morreram no acidente com o helicóptero em Trancoso, na semana passada. Segundo o jornal e o Tribunal de Contas da União, o Empresário, dono da Construtora Delta, e o Governador tem que dar muitas explicações sobre superfaturamento em obras.

O interessante da história é que O Dia, do grupo Ejesa, que edita também o tablóide Meia Hora e o Brasil Econômico tem relações próximas com “el bruxo” José Dirceu. Como sempre afirmamos, o PT não precisa de Oposição. Dentro do Partido existem mais sete ou oito partidos, todos sedentos de influência e poder. Haja visto o que aconteceu com Antonio Palocci.

Uma história de imprensa e política, com roteiro de novela.

O Dia, transformado em tablóide, com circulação em queda.

A corporação portuguesa Ongoing adquiriu, através da sua companhia no Brasil, Empresa Jornal Econômico, o grupo “O Dia”, que publica três jornais diários.Em comunicado, a Ongoing, com interesses em vários meios de comunicação de Portugal e que edita desde outubro o “Brasil Econômico”, ressalta que com esta compra se transforma no “terceiro maior grupo brasileiro de imprensa, com uma audiência diária de 3,5 milhões de pessoas”. A empresa portuguesa afirma que este acordo permite estar em “todos os segmentos do mercado da imprensa” no Brasil, com as publicações agora adquiridas – “O Dia” e “Meia Hora” e o jornal esportivo “Campeão”

A história desse grupo adquirido dos herdeiros de Ary de Carvalho começa num remoto 1º de abril de 1964. Ary dirigia a Última Hora em Porto Alegre, na condição de funcionário de Samuel Wainer, apoiador de João Goulart. No dia 2 de abril largou o jornal Zero Hora nas ruas, com a chancela dos militares, anunciando a “revolução vencedora”. E assumiu, com uns trocados, o ativo e passivo do jornal.

Em 1971, tendo construído o grande prédio da avenida Ipiranga, Ary de Carvalho, pressionado pelo volume dos investimentos, que incluía uma rotativa Goss Urbanity, teve que ceder parte e depois o todo do controle acionário aos irmãos Sirotsky, donos da Rádio Gaúcha, que hoje forma o poderoso grupo RBS.

Chagas Freitas: no final da vida, um presente para Ary de Carvalho.

Desenrolou-se neste episódio um enredo de novela, onde não faltaram lances apimentados, como um festim homossexual realizado num apartamento do centro da cidade, flagrantes policiais e até uma aposta errada de Ary na sucessão de Peracchi Barcelos no governo do Rio Grande do Sul. Ary apostou no chefe da casa civil, João Dêntice, mas o escolhido, pela indicação direta de Médici, foi o engenheiro, ex-militar e ex-prefeito de Caxias, Euclides Triches.

Gigi de Carvalho, líder dos herdeiros de Ary de Carvalho.

Ary de Carvalho transferiu-se então para o Rio de Janeiro e comprou o então pequeno jornal “Última Hora”, novamente por uma pequena quantia. No início dos anos 80, Ary de Carvalho caiu nas graças do ex-governador Chagas Freitas, que dominou a política carioca durante anos, como líder do partido MDB, fisiológico e admitido pelos militares como oposição branda. Apesar dos protestos dos herdeiros, Ary de Carvalho ganhou de Chagas Freitas, por uma importância também irrisória, o controle de O Dia, então o jornal de maior circulação no Rio de Janeiro e Estado, maior até que o Jornal do Brasil e O Globo. Com o falecimento de Ary, em 2003, o jornal passou para o controle das três filhas, Ariane, Gigi e Eliane de Carvalho, que agora transferem o controle ao grupo português, que tem participação também na Portugal Telecom e na operadora Vivo.

Zero Hora, nos seus primeiros dias: lances rocambolescos

Os novos controladores apressaram-se a negar a participação da eminência parda do Governo Lula, José Dirceu, deputado cassado pela Câmara em 2005 por sua participação no esquema do Mensalão. Mas a verdade é que ele está ligado aos portugueses, seja como sócio ou lobista, e não deixou a articulação política de Luiz Inácio, fazendo isso com especial discrição, que poucas vezes vaza para a grande imprensa. Com o negócio, Lula ganha uma imprensa popular simpática ao seu governo, e à sua eventual sucessora, Dilma Rousseff, no segundo maior colégio eleitoral do País.