Demanda por energia fica 5% abaixo do previsto depois do Coronavírus

A carga de energia registrada no sistema elétrico do Brasil na segunda-feira (23) somou 62,5 gigawatts médios, cerca de 5% abaixo das estimativas iniciais do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para o dia. De acordo com o órgão, a queda deve-se aos impactos sobre a demanda, causados pelas medidas adotadas no combate ao novo coronavírus. Gigawatt é a unidade de energia equivalente a um bilhão de watts.

Os dados – que constam de boletim publicado nesta terça-feira (24) pelo ONS – mostram, também uma redução de 13,85% na comparação com a segunda-feira anterior (16), quando a carga no Brasil somou 72,5 gigawatts médios.

A carga, que representa a soma do consumo com as perdas na rede, ficou abaixo do previsto em todas as regiões do país, disse o ONS no boletim.

O ONS informou que começou a verificar redução de demanda no sistema a partir da quinta-feira passada (19), quando houve queda de 2,3% na comparação com mesmo dia da semana anterior, em meio a recomendações do governo para que as pessoas fiquem em suas casas e à adoção de trabalho remoto por empresas.

Há expectativas de que a retração da carga se acentue nesta semana, quando entram em vigor medidas mais restritivas, como uma quarentena decretada pelo governo do estado de São Paulo que determinou o fechamento de todos os estabelecimentos comerciais e de serviços considerados não essenciais.

Neste momento, 15h45m, a demanda de energia está em 66325,1 MW. 

Ontem, 23, o reservatório da hidrelétrica de Sobradinho, segundo maior lago artificial do mundo, atingiu a marca de 66,25% da sua capacidade total e o reservatório de Três Marias, que regula a vazão de todo o médio Rio São Francisco, está em sua cota máxima, com 99,39%. Grandes reservatórios, como Furnas, Nova Ponte e Emborcação (Paranaíba), G.B. Munhoz e Salto Santiago (Iguaçu) e Serra da Mesa (Tocantins) continua aumentando suas reservas d’água. 

Serra da Mesa, que chegou a atingir um mínimo de 8% de sua capacidade, já ultrapassou 24%.

Economia do horário de verão é anulada pelo uso das térmicas

Diferentemente dos anos anteriores, o horário de verão, que está em vigor desde 20 de outubro do ano passado e acaba à meia-noite deste domingo (17) em dez Estados do país, deixou de reduzir gastos com energia porque o governo precisou manter a capacidade de funcionamento das usinas termelétricas a pleno vapor para evitar o racionamento de energia.  Em 2012, o governo deixou de gastar R$ 160 milhões com as térmicas durante o horário de verão.

O horário de verão economizou 2.477 megawatts (MW) no período de pico (entre as 18h e as 21h) nos Estados onde foi implementado, número equivalente a 4,5% da demanda máxima nos três subsistemas onde a mudança de horário vigorou, segundo balanço divulgado nesta sexta-feira (15) pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).

Se as termelétricas não estivessem ligadas no período, essa redução significaria uma economia de R$ 200 milhões em energia, mas como elas continuaram a todo vapor, a isso o governo chamou de “despesa evitada”. Isso porque a economia de energia proporcionada pelo horário de verão contribuiu para a recuperação dos reservatórios do sistema, mas não para a economia de energia.

Com gasto médio de 250 MW de energia no período do horário de verão, a redução do consumo de energia foi incorporado aos ganhos de armazenamento no período e, valorizados por um custo médio de geração térmica.

Essa redução de 250 MW/med representa 0,5% da carga dos subsistemas envolvidos e equivale a 8% do consumo mensal da cidade do Rio de Janeiro, mais 10% do consumo mensal de Curitiba, somados a 2% do consumo mensal de Palmas, por exemplo.

Histórico

Por causa do baixo nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas registrado nos últimos meses, o governo teve que acionar as térmicas, que produzem energia mais cara e são mais poluentes. Atualmente, 14 mil megawatts de energia térmica estão acionados.

As usinas termelétricas devem continuar em funcionamento pelo menos até abril, declarou o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética ), Maurício Tolmasquim, na semana passada.

Segundo Tolmasquim, a situação dos reservatórios das hidrelétricas está se normalizando. “Está chovendo o que se esperava, está uma situação boa, mas mesmo assim devemos manter as térmicas funcionando”. Ele explicou que as térmicas funcionam como um seguro, e seu acionamento garante que não haverá problema de desabastecimento.

Buriti valeu esperar

Seca contínua no Sul e Nordeste provoca queda na geração de energia.

Extravasores das usinas do Sul não vertem mais água. 

A seca no Oeste da região sul e nas cabeceiras do rio São Francisco já reduziram e ainda vai reduzir muito mais a produção de energia hidrelétrica no País. Algumas usinas do rio Uruguai, como Machadinho (RS/SC), por exemplo, simplesmente desligaram todas as turbinas por absoluta falta de água. Foi essa combinação de pouca chuva em quase todo o País que criou o apagão dos anos 2001/2002, no final do governo FHC. Ainda bem que a economia está crescendo pouco.

Se estivesse no ritmo, desejável, de 6/7% ao ano teríamos um novo apagão. Informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico indicam que a geradora de Sobradinho, responsável por 30% da energia da Região Nordeste, ainda tem perto de 80% da capacidade de geração, mas como estamos no início da temporada de estiagem é provável que essa capacidade seja muito reduzida até outubro/novembro.

Na bacia do Paraná a situação também é boa. É calamitosa particularmente no rio Iguaçu, mas hoje estão previstas chuvas fortes para a região, que podem começar a recuperação.

É hora de aquecer as turbinas das termoelétricas e redobrar a atenção das alternativas, principalmente as eólicas. Na Bahia, onde estão sendo instalados grandes parques eólicos, a região da Chapada Diamantina é considerada a melhor do País em força e constância dos ventos.

Vale a leitura do relatório de carga mensal (março) do ONS, clicando no link.