Nível das barragens das hidrelétricas é o mais baixo desde 2001

As hidrelétricas do Sudeste concentram os maiores reservatórios do País Foto: Agência Brasil

As hidrelétricas do Sudeste do Brasil, que concentram os maiores reservatórios do País, estão com o menor nível de armazenamento desde 2014, em meio a chuvas bastante abaixo da média histórica mesmo em um período tradicionalmente de boas precipitações.

O sistema Sudeste-Centro Oeste está com apenas 20,33% da capacidade dos reservatórios. Furnas, que é responsável por mais de 17% do sub-sistema, está apenas com 13% de sua capacidade. E Serra da Mesa, responsável também pela geração de 17% da energia da região, está apenas com 9,5% de água acumulada no lago.

Sobradinho, no rio São Francisco, responsável pela geração de 58% da energia hidrelétrica do Nordeste, está com 28% da capacidade do lago preenchida, segurando sua vazão com o reservatório de Três Marias, que está com 56% de água acumulada no reservatório.

Quem está segurando um pouco a água em Sobradinho e Xingó são as eólicas, que tem gerado em torno de 8 a 9 mil megawatts. As térmicas de todo o País também estão gerando em torno de 9 mil mw.

Os lagos das usinas hídricas, principal fonte de geração de energia, encontram-se com capacidade abaixo dos piores momentos de 2001, ano em que os brasileiros enfrentaram um racionamento de eletricidade, mas analistas e o governo, por ora, descartam riscos de falta de energia em 2020.

Segundo especialistas, há um considerável parque de termelétricas a ser acionado para atender a uma demanda que não tem crescido com vigor nos últimos anos, além de uma oferta bem maior proveniente de usinas eólicas e solares que não existia no passado.

A projeção de continuidade da atual condição seca em janeiro, no entanto, deve pressionar as contas de luz, ao manter cobranças adicionais geradas pelas bandeiras tarifárias. Sem mudança no quadro hídrico, ainda, o governo poderá decidir acionar termelétricas mais caras para atender a demanda, o que também gera custos que posteriormente são repassados às tarifas.

“Não vejo riscos de suprimento. O sistema está bastante seguro, temos capacidade de geração suficiente para aguentar”, disse o consultor Ricardo Lima, sócio-diretor da Tempo Presente e ex-conselheiro da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica.

Além dos especialistas, o governo também não vê possibilidade de racionamento de energia elétrica em 2020. O Ministério de Minas e Energia disse, em nota, que “não haverá falta de energia, mesmo que haja crescimento da economia acima de 2,5%”.

O pior é que a crise é estrutural, não conjuntural

0Fernando Abrucio, em entrevista de Diego Viana, no Valor Econômico.

 

O Brasil vive duas crises. Uma é a conjuntural e tem a ver com a governabilidade do sistema, que está em um cenário de completa incerteza. Esse cenário contribui para afastar o impeachment. Isso tem a ver com a operação Lava-­Jato, com a base enfraquecida do governo no Congresso, com a crise econômica, com o cenário internacional e também com a crise hídrica, que teve um efeito brutal nas contas públicas, não afetou só São Paulo.

É a tempestade perfeita, em que, de um lado, não se consegue avançar para organizar a governabilidade e, de outro, não se consegue organizar um desfecho que envolva a retirada da presidente. O grau de incerteza é tal que nenhuma das peças consegue se mexer para a frente, só para o lado. Quem tenta jogar para a frente é obrigado a retroceder, como Aécio Neves e agora Eduardo Cunha.

 

E mais adiante:

 

Todos parecem achar que o cenário conjuntural é o mais grave. Não é. Desde a semana passada, começou a tomar corpo, nos meios empresariais e políticos, a percepção de que a crise maior é estrutural. Nos últimos 27 anos, o Brasil conduziu uma série de agendas bem ­sucedidas. A redemocratização, a estabilidade econômica, a inclusão social. Sobretudo os governos de Fernando Henrique e Lula tiveram, comparando com o resto da história do Brasil, um sucesso muito grande.

O Brasil nunca foi democrático como é hoje, nunca incluiu tantas pessoas como agora, fez uma reorganização da sua base econômica muito forte, a despeito da crise. A maior parte dos países comparáveis não tem isso.

Só que outras agendas foram nascendo e foram sendo postergadas. É a agenda da qualidade da gestão pública, da produtividade da economia brasileira, da inserção internacional do país. É a agenda de como garantir direitos sociais que não sejam meramente direitos corporativos.

Mesmo que tirem Dilma, a crise estrutural vai estar presente. Nas duas últimas semanas, o empresariado começou a se dar conta disso. “Desde a semana passada, começou a tomar corpo a percepção de que a crise mais grave é estrutural, e não conjuntural”

 

Fernando Luiz Abrucio é graduado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1990), mestrado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (1995) e doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (2000). É professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (SP) desde 1995, ocupando atualmente o cargo de Coordenador do Mestrado e Doutorado em Administração Pública e Governo.

 

2015_08_17