Governo quer cortar PIS porque acha que é pago a quem não precisa tanto

Encare assim: as filas para receber o PIS/PASEP vão cair também pela metade. Foto de Antonio Cruz/Agência Brasil

De Juliana Elias, do UOL, em São Paulo

O abono salarial do PIS/Pasep, bônus anual de até um salário mínimo pago a empregados de baixa renda, beneficia pessoas de ‘renda intermediária’, em detrimento daquelas que vivem de fato na pobreza, e gera desigualdade na maneira como está configurado hoje.

É este um dos argumentos apresentados pelo governo para justificar a alteração proposta para o benefício com a reforma da Previdência: pelo texto apresentado, o abono salarial passaria a ser pago a trabalhadores que ganham apenas um salário mínimo, no lugar do teto atual de dois salários. O benefício é voltado apenas para empregados com carteira assinada.

As informações fazem parte dos documentos de detalhamento da reforma da Previdência que estavam sob sigilo e foram no final de junho.

Em sua justificativa, o governo também afirma que o abono, criado nos anos de 1970, perdeu seu sentido de complementação de renda ao longo das décadas graças à política de valorização do salário mínimo, que garantiu ganhos acima da inflação aos trabalhadores nos últimos anos. Esta política está sob revisão do governo e pode ser encerrada.

Economia de R$ 170 bi em dez anos

A economia estimada pelo governo com a redução na base de beneficiários do abono salarial, o que tem chamado de “focalização do abono salarial”, é de R$ 169,4 bilhões em dez anos.

É o equivalente a 13,7% da economia total de R$ 1,236 trilhãoprojetada até 2020 caso todas as alterações propostas sejam aprovadas na íntegra.

Especialistas avaliam mudança

Especialistas consultados pelo UOL contestam o argumento de que o abono salarial atual gera desigualdade, uma vez que já atinge trabalhadores de faixas salariais baixas. A economia gerada com o enxugamento do benefício, por outro lado, poderia ter um destino mais claro e estar vinculada a outras seguranças aos trabalhadores.

“Dois salários mínimos são ainda um rendimento muito baixo para justificar a mudança”, disse o advogado Theodoro Agostinho, especializado em direito previdenciário.

“Há redução fiscal, mas se criam problemas sociais, e não há garantia que essa eventual sobra de caixa vá para outros programas”, disse o presidente do Ieprev (Instituto de Estudos Previdenciários), o advogado Roberto Santos.

Para Santos, uma saída seria realocar a economia do abono para ampliar o seguro-desemprego e programas voltados, em especial, ao amparo a pessoas mais velhas fora do mercado de trabalho. “São pessoas que têm dificuldade em se recolocar e que, com a reforma, também terão dificuldade em se aposentar.”

O advogado trabalhista Ricardo Calcini afirmou que a redução do teto do abono é uma forma de concentrar os recursos em quem precisa mais. “Dentro da economia que o governo busca, limitar [o benefício] a quem ganha só um salário mínimo aproxima o abono daqueles ainda mais carentes, que precisam mais dele”, disse.

Concentração de renda

“Questiona-se o papel dessa política na redução da desigualdade social”, afirmou, sobre o abono salarial, a nota técnica assinada pelas Secretaria Especial de Previdência e Trabalho e pela Secretaria da Previdência do Ministério da Economia.

“Ao restringir-se aos trabalhadores inseridos no setor formal da economia, [o abono salarial] exclui os mais pobres e beneficia os decis [parcelas] intermediários de renda (…), tendo, portanto, caráter regressivo e concentrador de renda.” A nota menciona que, em 2017, o rendimento mensal médio real dos 50% mais pobres do país era de apenas R$ 754.

A nota também diz que o abono foi criado, nos anos de 1970, quando os trabalhadores “não tinham ganhos reais garantidos”. “Hoje, como consequência da política de valorização do salário mínimo, que garantiu ao trabalhador formal reposição equivalente à inflação, acrescida da taxa de crescimento real do PIB, até 2019, a política do abono perde sua relevância.”

Nota da Redação:

Parabéns ao 47% dos eleitores com renda de até 2 salários mínimos que prometeram, no dia 25 de outubro, votar em Bolsonaro, segundo pesquisa DataFolha da época. Os eleitores de Haddad alcançavam apenas 37% nessa faixa de renda. 

Começa hoje segunda etapa de pagamento do PIS-Pasep a idosos

A partir de 14 de dezembro, os saques estarão disponíveis para mulheres com mais de 62 anos e homens a partir de 65 anos

Aposentados poderão sacar saldos de contas do PIS/Pasep a partir desta sexta-feira, 17. Em agosto, o governo anunciou a antecipação dos saques, que antes só era permitido para pessoas com mais de 70 anos.

Nesta etapa, terão direito ao saque mais de 1,2 milhão de brasileiros, que terão disponíveis 1,7 bilhão de reais. Para aposentados correntistas da Caixa, no caso do PIS, e do Banco do Brasil, no caso do Pasep, os valores foram creditados nas contas na semana passada.

A partir de 14 de dezembro, os saques estarão disponíveis para mulheres com mais de 62 anos e homens a partir de 65 anos, de acordo com cronograma anunciado pelo governo. A estimativa é que R$ 15,9 bilhões sejam sacados, o que ajudará a aquecer a economia.

Têm direito ao benefício as pessoas que estiveram empregadas entre 1971 e 1988. Essas cotas podem ser sacadas em algumas situações, como aposentadoria, invalidez ou por idade: 65 anos (homens) e 62 (mulheres). Enquanto não são sacadas, as cotas geram rendimentos, que podem ser recebidos anualmente.

Quem ingressou no mercado de trabalho após 1990 tem direito a outra modalidade do PIS/Pasep, os abonos salariais. Eles também são pagos anualmente. Nesse caso, não há cota a ser sacada.

Os responsáveis pelos pagamentos são a Caixa Econômica Federal (PIS) e Banco do Brasil (Pasep). O valor médio a ser sacado é de 1.200 reais por pessoa.

Como sacar

No caso da Caixa, quem tem até 1.500 reais, poderá retirar o valor com a Senha Cidadão, nos terminais de autoatendimento. Entre 1.500 e 3.000 reais é necessário ter o Cartão do Cidadão e senha.

Valores acima de 3.000 reais só poderão ser retirados nas agências bancárias. Quem tem conta corrente, Caixa Fácil ou poupança na Caixa terá o valor depositado diretamente nas contas.

O Banco do Brasil também vai depositar os valores diretamente na conta dos trabalhadores que já forem clientes do banco. Os demais precisarão fazer uma consulta do saldo e, em seguida, uma transferência bancária.

(Com Estadão Conteúdo e Veja Abril)

Tem Pis/Pasep? Vá até a Caixa. Lá tem um dinheirinho extra antes do final do mês.

Quase 800 mil baianos começam a receber nesta terça-feira (23) o pagamento do abono ou dos rendimentos do PIS- PASEP. Para sacar o benefício, o trabalhador deve ir até uma agência da Caixa Econômica, no caso do PIS, ou Banco do Brasil, no caso do PASEP e apresentar o comprovante de inscrição no programa, além da carteira de identidade ou do cartão do cidadão. Quem tem o cartão cidadão com senha cadastrada também pode sacar o dinheiro em lotéricas e nos caixas eletrônicos da Caixa Econômica.

 

Tem direito ao abono, o trabalhador cadastrado no PIS/PASEP, que tenha trabalhado no mínimo trinta dias em 2011, com carteira assinada e que tenha recebido até dois salários mínimos por mês. Os rendimentos podem ser sacados pelo trabalhador que foi cadastrado no programa até outubro de 1988 e que tenha saldo na conta do PIS/PASEB.