Feijão tende a voltar à mesa do brasileiro na pós-pandemia

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Um estudo da Fiesp mostra que o arroz e o feijão devem perder importância na produção agrícola brasileira nos próximos anos. A projeção mostra que para as safras de 2028 e 2029, a área usada para plantar o feijão deve retroceder 10% em comparação com o período 2018/19, ficando em 2,6 milhões de hectares.

Para o arroz, a previsão é semelhante, com a redução de 9% na área plantada em dez anos, que deverá ser de 1,5 milhão de hectares para a safra 2028/29. A estimativa mostra, entretanto, um ganho de produtividade de 23% no período que deve fazer com que, apesar da utilização de uma área menor, a produção cresça 12%.

Para o feijão, é esperado ganho de produtividade de 19%, permitindo que a produção aumente 7% em dez anos. Nos próximos dez anos, a estimativa é que haja um crescimento de 6% no consumo de feijão e arroz no país. A título de comparação, a estimativa para o café é que o consumo doméstico cresça em 28% no mesmo período.

Redução do consumo

A retração da quantidade de terras destinadas ao plantio dos cereais está ligada, de acordo com o estudo, a uma redução do consumo desses alimentos. “As mudanças nos hábitos alimentares e no estilo de vida dos brasileiros, ocorridas nos últimos anos, fizeram com que, apesar da combinação arroz e feijão continuar presente na dieta, exista uma tendência de incorporação de outros tipos de alimentos”, avalia a pesquisa sobre como a combinação tem sido substituída por carboidratos industrializados, como pães, bolachas e massas.

O estudo destaca que entre as duas últimas safras é observada uma redução significativa na área destinada ao plantio de arroz. “Na safra passada houve queda de quase 300 mil hectares, mas, apesar do declínio da área, a produção não tem apresentado contração significativa, pois os ganhos de produtividade foram suficientes para manter a oferta alinhada com o consumo interno”.

Entre os fatores que levam ao desinteresse pelos produtos que fazem parte da dieta básica brasileira, está, segundo o estudo, o tempo necessário para o preparo. “O elevado tempo de preparo do produto convencional dificulta seu uso pelas pessoas, que procuram por maior praticidade”.

A trajetória do feijão

Apesar da produtividade média do feijão ter se multiplicado em até 5 vezes nos últimos 40 anos, a redução de área constante fez com que a produção tenha se mantido nos mesmos patamares. Por outro lado, a presença na mesa do brasileiro, também tem diminuído.

A novela “Feijão Maravilha” (março de 1979) relembrava a dificuldade do brasileiro de manter a leguminosa na mesa.

No início da década de 80 faltou feijão no mercado. Os bancos oficiais chegavam a condicionar a concessão de empréstimo de custeio ao plantio de uma parcela da lavoura com a leguminosa.

Os chefes de carteira agrícola e os gerentes do Banco do Brasil repetiam a propaganda do Governo: “Plante, que o João garante”. A propaganda se referia ao então presidente João Batista Figueiredo. Com a falta de feijão na mesa, depois de duas safras frustradas, faltou a leguminosa, cuja saca de 60 kg valia até 400 dólares. A importação de feijão norte-americano e mexicano não supria a demanda brasileiro e até a Rede Globo lançou uma novela “Feijão Maravilha”, repetindo o tema de uma música muito popular na época. O feijão virou ouro e 2 sacas por hectare eram o suficiente para pagar o Valor Básico de Custeio financiado pelo BB.

Na década de 90, quando se colhia 50 sacas por hectare era um assombro. Hoje produtividades de até 70 sacas por hectare são comuns, dados os recursos ampliados de nutrição do solo, plantio direto e irrigação.

A situação pode se alterar profundamente neste período pós-pandemia. Os preços meteóricos da carne bovina e do aumento significativo do suíno e das aves, em função da demanda da exportação, pode fazer o feijão voltar à mesa do brasileiro de menor renda com força.

O feijão tem caído de preço com a entrada da chamada terceira safra no mercado. Mas a capacidade de alta produtividade das áreas irrigadas devem garantir a oferta da leguminosa.

Um arroz com feijão, temperado com charque (jabá), bacon ou torresmo ainda é o melhor prato que o brasileiro pode encontrar nas cozinhas familiares e nos restaurantes mais populares.

Pelo segundo mês consecutivo, cesta básica apresenta redução em Salvador

A ração essencial mínima definida pelo Decreto-lei 399, de 30 de abril de 1938, que estabelece 12 produtos alimentares (feijão, arroz, farinha de mandioca, pão, carne, leite, açúcar, banana, óleo, manteiga, tomate e café) e suas respectivas quantidades, passou a custar R$ 308,31 em março de 2016, representando um decréscimo de 2,26% quando comparado com o mês de fevereiro de 2016.

Dos 12 produtos que compõem a ração essencial mínima, dois registraram queda de preços: Tomate (16,14%) e Carne bovina (cruz machado ou paleta) (1,32%). Por sua vez, dez registraram aumento: Farinha de mandioca (4,42%), Banana da prata (4,36%), Feijão rajado (2,66%), Óleo de soja (1,86%), Arroz (1,71%), Açúcar cristal (1,28%), Pão francês (1,24%), Café moído (1,20%), Manteiga (0,98%) e Leite pasteurizado (0,31%).

No mês em análise, o tempo de trabalho necessário para se obter a cesta básica de Salvador foi de 91 horas e 24 minutos, e o trabalhador comprometeu 42,53% do salário mínimo líquido (R$809,60) para adquirir os 12 produtos da cesta.

Para alguma coisa a crise serviu, para baixar o preço dos alimentos e diminuir a inflação. No Governo Temer, podem aguardar, vai cair ainda mais. O pobre vai comer tão pouco que o consumo de papel higiênico vai cair para menos da metade.

 

2016-04-13