
Longe de querer ser considerado um intolerante religioso, defendo a livre manifestação religiosa e sou um defensor dos serviços prestados por religiosos de todos os credos às suas respectivas comunidades. Mas algumas situações ultrapassam o nível do bom senso. Há dois dias uma igreja realiza uma manifestação pública no Jardim das Oliveiras. Fecharam uma rua, fizeram um palanque, puxaram um fio de energia não sei de onde e, com alto-falantes que facilmente ultrapassam 120 decibéis, infernizam a vida dos moradores, com gritos e cantos primevos. O Jardim das Oliveiras deve ter uma população de mais de 4.000 moradores. Como no evento, fotografado e gravado, existem não mais de 100 pessoas, outras 3.900 são obrigados a ouvir a pregação sem fim, que ontem beirou as 23 horas e hoje avança lépida para o mesmo horário.
Para rezar e louvar ao Senhor precisa gritar? Por acaso Deus é surdo? Para difundir sua fé, precisam enlouquecer seus vizinhos com gritaria?
Ontem, uma unidade da PM patrulhava o bairro, mas não foi capaz de avisar ao pessoal que depois das 22 horas é período de descanso e é proibido perturbar.
A necessidade de crentes e pessoas religiosas em divulgar a sua fé não pode interferir na liberdade religiosa de outrem. O Estado é laico e a infraestrutura pública é de uso comum. Sejam crentes ou ateus.
Reclamar a quem? Os políticos dessa cidade vivem uma relação incestuosa com as igrejas, prometendo e dando mundos e fundos. E os líderes religiosos elegem seus representantes no Executivo e na Câmara como forma de exercer pressão.
Há poucos dias, quando o vice Marco Alecrim tomou posse, a primeira providência foi chamar os pastores que o apoiaram na campanha e fazer uma longa reza, ponteada de aleluias, no gabinete do Prefeito. Secretários são indicados porque representam os evangélicos. Vereadores estão sempre prontos a defender suas igrejas no plenário da Câmara. E o ex-prefeito, Oziel Oliveira, doou mais de 50 lotes para igrejas das mais diversas orientações, mais da metade delas sem um CNPJ. Isto é: os lotes, muitos deles, foram parar nas mãos dos pastores. Humberto Santa Cruz, o sucessor, para não arrumar inimigos, acabou regularizando a situação de todos os lotes doados.
