Nada justifica a invasão e depredação de uma propriedade particular. Nada mesmo. Principalmente com o cometimento de tantos e tão nefastos prejuízos a uma empresa privada dedicada a produzir alimentos.
Mas se por um lado, cometeu-se de fato um crime, é preciso ressaltar a inaptidão emblemática do agronegócio para lidar com as comunidades nativas, principalmente diante da ameaçadora crise hídrica que atinge o Nordeste brasileiro, depois de seis anos de secas e de baixa precipitação.
A agricultura custa caro em termos de recursos hídricos naturais. Quase 70% da água doce disponível no País (com exceção da região amazônica) é utilizada na irrigação.
As manifestações de entidades ligadas ao grande agronegócio são permeadas de “repúdios” e ameaças ao levante popular que invadiu duas fazendas do grupo Igarashi, em Correntina. Mas não se trata esse tipo de ação simplesmente com mais violência.
A hora é de chamar os líderes comunitários (é melhor adversários conhecidos do que desconhecidos) em audiência pública e analisar suas pautas e bandeiras mais relevantes.
Notas ponteadas de ameaças nada acrescentam ao problema. Só rompe ainda mais o tecido social, frágil, sobre o qual foi estabelecido o conflito.
É importante ressaltar que hoje já não se usa a irrigação em cultivos de grãos durante a época mais seca do ano – de agosto a outubro. A irrigação é usada apenas para salvação e para a realização de uma safrinha no final do ciclo das águas. Os equipamentos depredados nas duas fazendas Igarashi não estavam, na sua quase totalidade, em operação.
No entanto, o rio Arrojado vem sendo maltratado desde as suas nascentes, na BR 020, em Posse, onde um empresário transformou a vereda das suas cabeceiras em um balneário. Vários afluentes do rio já secaram, inclusive com tentativas de construção de canais e falta de preservação de suas margens por agropecuaristas que não pertencem ao grande agronegócio.
Basta um ano de boas chuvas e tudo estará resolvido. Mas o precedente está aberto e agora urge a necessidade de linimentos, de uma boa conversa, não do aguçamento do confronto.
Basta ver os vídeos antigos da Rede Globo, de mais de 10 anos. O problema já existia. Estava latente.
