Agricultores do Mato Grosso correm risco ao pensar em safrinha de soja.

Milheto: garantindo produtividade nas próximas safras de soja
Milheto: garantindo produtividade nas próximas safras de soja

Produtores de Mato Grosso, Estado onde mais se colhe grãos no país, planejam plantar uma segunda safra de soja nesta temporada, em substituição à chamada safrinha de milho, numa tentativa de evitar os baixos preços sinalizados para o cereal.
A extensão das lavouras que serão plantadas com essa prática arriscada, porém, ainda é uma incógnita. “Não sei ainda a área, mas a soja segunda safra é uma realidade”, disse o agricultor Laércio Lenz, presidente do Sindicato Rural de Sorriso, importante município produtor na região norte de Mato Grosso.
O plantio de uma segunda safra sempre foi um diferencial competitivo de regiões como o Centro-Oeste brasileiro e o Paraná. O clima e as tecnologias existentes permitem que uma mesma área seja cultivada duas vezes na mesma temporada.
Usualmente em Mato Grosso, a chamada “safrinha” tem sido dominada pelo milho, o que ajudou o Brasil a praticamente duplicar a produção do cereal nos últimos dez anos.
Desde julho deste ano, no entanto, as cotações do milho despencaram 40 por cento no mercado internacional, pressionadas por grandes safras nos Estados Unidos e no Brasil. Os preços ficam ainda mais depreciados em regiões como o norte de Mato Grosso, distante dos portos e com logística deficitária. A soja, ao contrário, não caiu tanto e continua rentável.
Apesar do incentivo econômico para trocar o milho pela soja na próxima safrinha, produtores terão que ponderar enormes riscos sanitários, alertam especialistas. “A lista com os fatores negativos agronomicamente não cabem numa folha de caderno”, disse à Reuters o diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja MT), Nery Ribas

Os agricultores conhecem o risco de se plantar soja em cima de soja. Nematóides, lagartas, fungos e até doenças bacterianas vão encontrar terreno fértil. A rotação de culturas no País deveria ser obrigatória, principalmente com a alternância de leguminosas e gramíneas, com o objetivo de se preservar o solo e prevenir doenças. Mecanismos para isso as autoridades agrícolas têm. Basta implementá-los.

Vai longe o tempo em que os consórcios de milho e feijão eram importante fator econômico do País. Mas existem alternativas de bons resultados na alternância de culturas, como o plantio de capins tipo milheto para formação de cobertura morta e até um, antes improvável, rodízio entre arroz e soja nas áreas alagáveis do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O Centro Oeste, o Oeste da Bahia e a grande região do Mapitoba exigem o incremento das cadeias produtivas da avicultura, suinocultura e bovinocultura em confinamento para o consumo dos excessos de milho.  

Caupi entra como alternativa na rotação da soja para pequenos produtores.

Foto de Jonathan Campos, da Gazeta do Povo

Os produtores de grãos da Bahia transformam suas próprias lavouras em campos experimentais na corrida para aumentar a produtividade. O gaúcho Renato Strassburger (foto), agricultor que atua em Luís Eduardo Magalhães (Oeste) desde 1996, resolveu incluir o feijão caupi no sistema de rotação de culturas, o que facilita o controle de pragas.

Cultivares da Embrapa Meio-Norte estimulam a produção comercial do alimento, um dos mais consumidos pela população do Nordeste. Com 190 hectares de soja e 120 de milho, Strassburger dedica 10 hectares à leguminosa. Se o teste der certo, vai se tornar produtor de caupi de vez.

O aperfeiçoamento do sistema produtivo tende a abrir mais espaço para o feijão, observa o agrônomo Robson Mafioletti, que acompanha a Expedição Safra, blog mantido pela GRPCOM e pendurado no site do jornal paranaense Gazeta do Povo. Mafioletti realiza na viagem pelo Centro-Norte, que começou na quinta-feira e segue até o próximo fim de semana.