Monsanto terá que indenizar produtor de algodão do Oeste baiano

Walter Horita, em foto de Carlos Alberto Reis Sampaio
Walter Horita, em foto de Carlos Alberto Reis Sampaio

Por Fabiana Batista, do Valor Econômico

Após pagarem US$ 240 por hectare em royalties à Monsanto para se livrar da lagarta helicoverpa, alguns produtores de algodão do oeste baiano que usaram no último ciclo, o 2013/14, variedades de sementes da empresa com a nova tecnologia resistente a lagartas, a Bollgard II RR Flex (conhecida com Bt2), depararam-se com um fato inesperado. Ao beneficiar o algodão, em vez de 40% de fibra, obtiveram um percentual bem mais baixo: em média de 35%.

Eles agora negociam com a multinacional uma indenização. A Monsanto não revelou a qual montante deve chegar o ressarcimento, mas cálculos do mercado indicam que deve ficar entre R$ 10 milhões e R$ 12 milhões, um pouco abaixo dos cerca de R$ 15 milhões que a empresa teria faturado na mesma safra com os royalties cobrados da tecnologia na Bahia.

O gerente de marketing de algodão da Monsanto, Eduardo Navarro, disse que a empresa acompanha os produtores que usaram as sementes desde que apareceram os primeiros relatos, ainda em julho deste ano. A safra 2013/14 marcou a estreia no país dessa tecnologia, que foi incorporada em quatro variedades produzidas pela Delta Pine, empresa de sementes controlada pela múlti.

Foram produzidas e vendidas sementes suficientes para plantar 60 mil hectares com a tecnologia em 2013/14. Em torno 31 mil hectares foram cultivados em Mato Grosso e 29 mil, na Bahia – respectivamente, o primeiro e o segundo maiores produtores nacionais da pluma.

Dessas quatro variedades, afirmou Navarro, duas trouxeram menor rendimento de pluma estritamente no oeste baiano, a DP 1228 e a DP 1231. Elas foram plantadas em 80% dos 29 mil hectares cultivados com a tecnologia Bt2 na Bahia, conforme a Monsanto. O esperado era um rendimento entre 39% e 40% de pluma. “Mas, em média, o obtido nesses casos ficou entre 35% e 36%”.

Nas contas da multinacional, a perda afetou 40 agricultores do Estado. Diante da situação, segundo Navarro, a Monsanto assumiu toda a responsabilidade pelo ocorrido. Ele disse que já foi fechado acordo com produtores que respondem por 60% da área cultivada com a DP 1228 e a DP 1231. “Nossa preocupação era deixar claro ao produtor que o problema foi nosso e que estávamos lá para atender suas expectativas”, afirmou o executivo.

Ele garantiu que os produtores que fizeram o acordo até o momento se mostraram satisfeitos. Isso, apesar do parâmetro de negociação adotado pela empresa de ressarcir a diferença de rendimento da pluma – de 39% para 35% – mas considerar no cálculo da indenização a redução de custos obtida pelo produtor com o uso da tecnologia.

Como é resistente à lagarta helicoverpa e controla a incidência de plantas daninhas, a Bt2 demanda uma aplicação bem menor de defensivos agrícolas, do que as variedades convencionais -, produtores que usaram a Bt2 não precisaram fazer nenhuma aplicação de inseticida, quando, com variedades convencionais, precisam realizar de 25 a 30 aplicações para combater a lagarta.

Mas justamente porque pagaram os royalties, os produtores consideram injusto descontar do valor a ser ressarcido a economia de custos obtida com a tecnologia – apesar de alguns estarem fechando acordo mesmo assim devido ao relacionamento já estabelecido há anos com a multinacional.

Nos cálculos feitos com os produtores afetados, a Monsanto verificou que, na média, mesmo com rendimento de pluma menor, o produtor teve rentabilidade 15% maior com a tecnologia, na comparação com variedades convencionais, segundo Navarro. “Foi essa lógica que foi levada para a mesa de negociação”, disse.

Entre os que já fecharam acordo com a multinacional, está o produtor Walter Horita, um dos maiores da Bahia. Em torno de 10% de sua área total com a pluma, de 37 mil hectares, foi cultivada com a tecnologia resistente à helicoverpa. Após o beneficiamento, Horita verificou um rendimento de pluma de 35%, uma queda de 12,5% em relação ao esperado. O produtor disse não se sentir confortável para revelar as condições do seu acordo. Apenas afirmou que não conseguiu obter o ressarcimento de todo os 12,5% de perda de rendimento. Continue Lendo “Monsanto terá que indenizar produtor de algodão do Oeste baiano”