A Bahia está dividida de fato e não é só no papel.

O que o povo do litoral não comenta é que de fato, mais do que de direito, a Bahia está dividida. Partida, rachada, indelevelmente dissociada das realidades que o Palácio de Ondina conhece e daquelas as quais não quer tomar conhecimento.

O apartheid existe, é social, é econômico, e traduz-se por um travo amargo, por parte dos litorâneos, que sabe a preconceito e desconhecimento de causa, traduzido no simplismo retórico da expressão “além são francisco”.

Quem são, afinal, e por quem são, os franciscanos perdidos nas estepes áridas da caatinga? Quem são, afinal, os chapadeiros que transformaram os enormes vazios das chapadas na economia pulsante do agronegócio da Bahia?

 Por que mundos tão diferentes como a agricultura de maior nível tecnológico do País e a tradição de resistência dos beradeiros da margem esquerda do São Francisco estão unidos na mesma chama da emancipação?

Perguntam-se, nas horas vazias da sua meditação, os próceres da pátria baiana, sobre os anseios de mais de um milhão de franciscanos pelo desenvolvimento social e econômico?

Não! Nada pensam. Estão preocupados com chavões que não se auto-explicam, que não têm um argumento lógico, arbitrários, discricionários, ditatoriais. Com que autoridade os litorâneos dizem que a Bahia não se divide, se não conhecem as sertanias, o trabalho e o suor dos franciscanos?

O Governador, lavado e enxaguado nas inspirações do sindicalismo, arbitrou, em nome de um milhão de almas, que elas dependerão para sempre dos homens vestidos de ternos brancos, deitados eternamente à beira do Atlântico.

A Bahia não precisa escolher entre permanecer una ou divisível. Ela já está dividida nos corações e mentes dos sertanejos mais simples, daqueles que morrem sem atendimento médico, daqueles que estudam em barracas cobertas de lona, como na indignação daqueles que arrebentam seus caminhões em estradas esburacadas no afã de salvar as suas safras.

É legítima a aspiração dos franciscanos como são legítimas as suas eternas, e nunca atendidas, reivindicações pela integração ao Estado baiano em termos de segurança, educação, saúde e infraestrutura.

 Alguns argumentarão que as deficiências nestes setores fazem parte também do cotidiano da Capital e da Grande Salvador. E então, não pudemos, por ser sertanejos e ter escolhido o lar um pouco mais distante do local de onde se decide os destinos da Bahia, sonhar um novo Estado, uma nova comunidade oestina?

Talvez não enquanto estivermos entregues ao pragmatismo eleitoreiro de políticos. Mas, sim e com certeza, a partir do momento em que a nossa identidade sertaneja avance pelos caminhos empoeirados do Oeste, numa onda avassaladora levantada por nossa vontade.

Há 161 anos o sertão sonha com a independência do Oeste. E agora é a hora e vez de tomarmos nossa bandeira tricolor e avançarmos pelas sendas da auto-determinação.

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Autor: jornaloexpresso

Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril

4 comentários em “A Bahia está dividida de fato e não é só no papel.”

  1. Se a bandeira é tricolor, meu apoio é incondicional. Brincadeiras a parte, chega de silêncio, chega de omissão, apoio esta e outras lutas por um Brasil melhor e mais justo.

  2. Excelente matéria.
    A união de todas as regiões do novo Estado do Rio São Francisco é imprescindível. É com esta visão que o Comite Gestor “Marlan Rocha” fará no dia 19/08/2011, 18:00 hs, no Ginásio de Esportes da FASB, com a presença de Autoridades Federais,Deputados Estaduais, UMOB, Autoridades de outros municípios do Oeste e da Comissão responsável pela emancipação do estado do Tocantins.
    Desta forma, convidamos os cidadãos, autoridades e a imprensa de Luís Eduardo Magalhães a participarem deste primeiro evento pró-emancipatório do Estado do Rio São Francisco, ao qual solicitamos intensa divulgação.
    Atenciosamente

    Comite Gestor “Marlan Rocha”
    Sub-comissão de mobilização.

  3. Legal o seu texto…

    Se me permite, só quero fazer uma simples pergunta:
    Desde quando vc é franciscanos, cara pálida?

    A verdade, se me permite, é que vc fala de uma região na qual não é sua.

    Eu sim, nasci em Barreiras, moro aqui desde sempre e sou contra a criação desse estado que so servirá pra eleger políticos mal intencionados.
    E olha que Barreiras possivelmente seria a capital dessa ‘farra’ toda!

    E mesmo assim ainda sou contra!
    A pesar disso, bom texto e obrigado por aceitar meu comentário contrário ao seu.

    E pra finalizar, boa sorte ao seu Internacional de Porto Alegre;

    Nota da Redação:
    Você não passa, meu caro leitor, de um reles xenófobo. Estou desde fevereiro de 1980 na chapada, portanto há 31 anos, talvez mais que a sua idade, senão cronológica, talvez psicológica, pois o seu comportamento é juvenil. Se você é contra, vote contra no plebiscito. Este é o jogo da democracia: a opinião da maioria prevalece.

  4. com certeza ja está mas do q na hora d dividir este estado onde o litoral e sul da bahia é visto como bahia em nivel nacional, já o oeste bahiana é apenas um alicersse ali em baixo e escondido, mas é a segurança de uma obra. Por isso tem muito peixe grande de Salvador contra dividir o estado.
    Eu sou de Cotegipe, perto de Barreiras, essa região é rica e tem tudo pra desenvolver bastante em pouco tempo isso é, se for criado o estado do rio são francisco assim as nossas riquezas vai ficar concentrada aqui no oeste e não levada pra o sul…
    um abraço a todos que apóiam o estado do Rio São Francisco

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