Almerinda e o corno que não era filho do corno
Pois Madame Almerinda me contou, assim, bem de pertinho, uma história inacreditável. Segundo a pitonisa, um marido desconfiado a procurou para saber se podia confiar na mulher, uma bonitona que andava por aí, no comércio, pintando a boca de vermelho e com uma calça tão justa quanto a justiça divina.
Almerinda não tem papas na língua e sabendo da fama da inquirida, foi logo dando o seu vaticínio cruel. Veja bem, caro consulente, naquele corpinho vil já passou boi e passou boiada.
O marido revoltou-se com a frieza de Almerinda. E reagiu:
“Isso é charlatanismo. Não pago a consulta. A senhora de nada sabe”.
Almerinda então tratou de preservar a sua capacidade adivinhativa:
-Pois faça outra pergunta, pelo mesmo preço, e poderei lhe provar que sou séria.
O consulente não se fez de rogado e lascou:
-Pois diga onde se encontra meu pai agora.
Almerinda foi taxativa:
-Está tomando cachaça naquele bar da avenida Airton Senna!
O Corno exultou:
-Pois errou. Meu pai morreu há mais de 12 anos.
E Almerinda, senhora de todas as profecias, corrigiu para sempre o passado:
-Quem morreu há 12 anos foi o marido de sua mãe. O seu pai verdadeiro é o cachaceiro mesmo!
Inspirado no genial Ariano Suassuna