Bolsonaro diz que quer “quebrar sistema da Rede Globo”

Do colunista Josias de Souza

Em certos pontos, Jair Bolsonaro e Lula são extremos que se tocam. Ambos consideram-se, por exemplo, perseguidos pela mídia. No atacado, atacam a imprensa que cultiva o hábito de imprensar. No varejo, ameaçam varejar a maior emissora de TV do país. “Eu tenho uma tara pela Rede Globo”, declarou Bolsonaro nesta terça-feira, em discurso na Associação Comercial, Industrial e Agropecuária da cidade paulista de Registro.

Bolsonaro afirmou que, eleito, vai “quebrar o sigilo do BNDES.” Soou enfático: “Pode ter certeza, nós vamos entrar no BNDES. Vamos saber a dívida de todo mundo lá.” Sua curiosidade inclui os devedores estrangeiros e os nacionais —“Em especial a Rede Globo”, realçou, antes de alardear sua obsessão: “Eu tenho uma tara pela Rede Globo, sou apaixonado pela Rede Globo.”

Em timbre irônico, Bolsonaro prosseguiu: “Eu gosto das novelas deles, que arrebentam com as famílias no Brasil. Eu gosto daquela que faz um programa de manhã: Fátima Bernardes. Também sou vidrado em BBB. No meu governo não vai ter dinheiro para valorizar esse pessoal que faz esse tipo de programa. Pode continuar fazendo, não vai ter censura. Mas dinheiro público?!?”

Com a sutileza que lhe é peculiar, Bolsonaro não fez mistério sobre os planos que reserva para o alvo de sua tara. Disse que seu objetivo é “quebrar esse sistema que tá aí.” Nesse ponto, o ex-capitão soou mais extremista do que o ex-sindicalista. Na retórica tóxica de Lula, o sonho da domesticação do noticiário é camuflado sob a definição de “controle social da mídia”.

Se conhece alguma operação em que o BNDES tenha malbaratado dinheiro público numa UTI para logomarcas jornalísticas, Bolsonaro deveria trocar a maledicência pela formalização de uma denúncia. Do contrário, ficará parecendo que o verdadeiro objeto de sua tara é uma coisa muito velha: a ressurreição do Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo, uma usina de maquiagem a partir da qual Lourival Fontes fabricou o “pai dos pobres.”

No mais, se a maioria absoluta do eleitorado resolver lhe presentear com a poltrona de presidente, Bolsonaro dispõe de vacinas capazes de imunizá-lo contra as manchetes radioativas. Bastará que o novo presidente conduza sua língua na coleira, produza estabilidade com prosperidade e mantenha seu governo longe dos escaninhos do Ministério Público e do Judiciário.

Se o Supremo Comandante do Universo resolver castigar o País novamente, como já fez com Temer e sua canalha de conspiradores, teremos dias agitados e noite inquietas, segundo a língua nervosa de Bolsonaro.

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Autor: jornaloexpresso

Carlos Alberto Reis Sampaio é diretor-editor do Jornal "O Expresso", quinzenário que circula no Oeste baiano, principalmente nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério. Tem 43 anos de jornalismo e foi redator e editor nos jornais Zero Hora, Folha da Manhã e Diário do Paraná, bem como repórter free-lancer de revistas da Editora Abril

2 comentários em “Bolsonaro diz que quer “quebrar sistema da Rede Globo””

  1. O Bozonaro da Venezuela que também era militar e atendia pelo nome de Hugo Chavez fez a mesma coisa com a maior emissora daquele país. O Brasil será uma Venezuela de direita com a mesma truculência, fuga de nacionais e capitais e apropriação da máquina pública, incluindo-se as empresas. Não se esqueçam, lá, muitos militares estiveram e estão no comando de setores importantes.

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