Justiça francesa absolve Air France e Airbus por acidente que matou 228 no voo Rio-Paris.
17/04/2023
Avião que saiu do Rio de Janeiro com destino a Paris caiu em 1º de junho de 2009. Tribunal diz que não é possível estipular causalidade.
A Justiça francesa absolveu a Air France e a Airbus no julgamento sobre a queda do voo 447, que saiu do Rio de Janeiro para a França e caiu no meio do Oceano Atlântico, em 2009, deixando 228 mortos. A decisão é desta segunda-feira (17/4).
O tribunal considerou que, apesar de as empresas cometerem falhas, não foi possível demonstrar relação de causalidade com o acidente. Esse foi o mesmo entendimento do Ministério Público francês, em dezembro de 2022.
No acidente, 228 pessoas morreram: eram 216 passageiros e 12 tripulantes. Essa foi a ocorrência que mais causou mortes na história da aviação francesa.
As caixas-pretas confirmaram que o acidente aconteceu em decorrência do congelamento das sondas de velocidade quando o avião estava em voo de cruzeiro numa zona com condições meteorológicas diversas. O problema fez com que os aparelhos relatassem informações de altitude de forma incorreta, o que levou os pilotos a perderem o controle da aeronave.
Investigações relataram que danos parecidos nas sondas aconteceram antes do acidente, o que levantou questionamentos sobre o papel das empresas no ocorrido.
Ferida reaberta
Marteen Van Sluys perdeu a irmã Adriana Van Sluys no voo Air France 447. Ela era assessora de imprensa da Petrobras e viajava a trabalho a Seul, com escala em Paris. Ele diz que apesar de todas as provas reunidas, depoimentos, especialistas, advogados, a decisão da Justiça francesa de absolver a fabricante Airbus e a companhia aérea Air France já era esperada.
“No ano passado estivemos nas audiências em Paris e as perspectivas da defesa, os nossos depoimentos e os da promotoria já apontavam de alguma forma para uma decisão corporativista da defesa francesa em relação às duas grandes empresas francesas envolvidas nesse caso. O fato de citá-las como responsáveis, porém não culpadas é entendido por nós como uma piada de mau gosto”, diz Van Sluys, que é fundador da associação que representa os parentes de vítimas do voo 447 no Brasil.
A caixa-preta revelou que a causa do acidente foi o congelamento dos medidores de velocidade Pitot. O piloto automático parou de funcionar e o modo manual foi acionado. Em vez de manter a estabilidade, o jovem copiloto Pierre-Cédric Bonin, de 32 anos, empinou o nariz do avião, levando o Airbus 330 a atitude de voo inadequada e perder sustentação com um violento stoll. O comandante do voo, Marc Dubois, de 58 anos, descansava na hora da falha, e quando chegou à cabine, a aeronave já estava sem controle.
Ainda que reconheçam a responsabilidade do jovem piloto na tragédia, familiares dizem que as empresas deveriam ter substituído os medidores, já que outros incidentes com pitots haviam acontecido antes do voo. E também dizem que a Air France deveria ter treinado melhor seus pilotos.
Claire Durousseau, que perdeu um sobrinho e uma sobrinha no voo conversou com jornalistas no Tribunal de Paris, logo após o resultado do julgamento. Muito abalada, ela criticou fortemente a decisão. “Acreditamos na justiça até o fim, até o momento que entramos na sala hoje, todos nós acreditamos. Mas infelizmente saímos sem nada, porque nossos mortos estão mortos mesmo, morreram pela segunda vez hoje, entendeu? Eu’ Estou muito triste, sinto um frio na barriga. Estou com nojo.
Como presidente da associação brasileira de vítimas do 447, Van Sluys afirma que o sentimento é de uma ferida reaberta. Ele diz que fica a tristeza, mas também a certeza de que, pelos familiares queridos, valeu a pena ter lutado por longos e dolorosos anos.
“Fica a decepção e a certeza que a justiça será feita, ainda que não pelo judiciário francês. Infelizmente, hoje fomos surpreendidos por essa notícia, mas recordações e lembranças dos nosso familiares permanecerão pra sempre nos nossos corações”, diz.
De edições do Metrópoles e CNN
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