Depois de 4 anos com a economia em farrapos, esta é uma eleição boa de se perder

Mercado tem feito alertas para a ilusão do ‘benefício da dúvida’ a Bolsonaro

Por José Paulo Kupfer, em Poder 360

Passado um ciclo político completo de quatro anos, a situação econômica prevalente no início deste exercício que se encerra é a mesma possível de vislumbrar naquele que está próximo de se iniciar. Como foi lá em 2014, a eleição presidencial de 2018 é boa de perder.

odos os problemas e desequilíbrios que fizeram o pleito de 2014 ser bom de perder continuam valendo agora. A contração profunda do nível de atividade, que esfarrapou a economia nos dois anos em que a presidente reeleita Dilma Rousseff manteve-se no cargo, deu lugar a uma situação de permanente quase recessão com Michel Temer, o vice-presidente que a sucedeu.

Essa situação ameaça se prolongar, acentuando a deterioração da estrutura produtiva. Estamos falando não só de máquinas, equipamentos e processos defasados por falta de investimentos, mas também das sequelas para a mão de obra afastada de ocupações decentes por tempo prolongado.

Quatro anos depois, as dificuldades para reequilibrar a economia e colocá-la em trajetória de crescimento mais consistente se equivalem. Se a inflação amainou, o desemprego não saiu do lugar e os impasses fiscais se aprofundaram.

Com as guerras comerciais de Trump e a normalização monetária puxada pela alta dos juros de referência nos Estados Unidos, até o ambiente externo, diante do qual o País, com seu alto volume de reservas internacionais, dispõe de um razoável seguro contra contágios, se apresenta menos confortável.

Também do ponto de vista político, naquilo que importa para a economia, nada se alterou em substância. Entre 2015 e 2018, os Poderes da República não só continuaram a não se entender como alargaram seus desentendimentos, inclusive internamente a eles.

Essa grave disfunção institucional está na raiz das dificuldades para superar os gargalos estruturais que sufocam as potencialidades brasileiras. Se a notória inabilidade de Dilma permitiu prosperarem no Congresso as pautas-bomba que a impediram de governar e ajudaram a derrubá-la, nem por isso o estilo jeitoso e conciliador de Michel Temer foi suficiente para levar a bom termo o programa reformista conservador com o qual ocupou o lugar da antecessora.

Ficará como mais uma das ironias da História a incompreensão dos perdedores da eleição de 2014 de que aquela era uma eleição boa para perder. Não obstante a tenham perdido, não se conformaram com o resultado e se lançaram na aventura de ganhá-la por outros meios.

O impactos negativos da vitória alcançada via contestação do resultado eleitoral e do impeachment estão aí para ninguém ter dúvidas. Associado a outros partidos no impeachment da presidente reeleita Dilma Rousseff, o PSDB compôs o governo de Michel Temer, contando com a aprovação de reformas, a volta dos investimentos e do crescimento econômico. Deu errado e muitos tucanos, assistindo agora a um PT surpreendente e razoavelmente competitivo, quando há meros dois anos parecia moribundo, se perguntam se não teria sido melhor deixar Dilma e seu partido afundarem até o fim.

Nesse meio tempo, assentada com a argamassa do protagonismo do Judiciário, a criminalização da política fertilizou o terreno da atual barafunda institucional e contribuiu fortemente para o engarrafamento de soluções do imenso imbroglio econômico em que estamos metidos. O fato é que, nos termos atuais, qualquer que fosse o eleito, a quantidade de ajustes e acertos dependentes de maiorias no Congresso e de decisões judiciais torna a missão de rearrumar a economia, para dizer o mínimo de forma elegante, muito complexa.

Quando os dois líderes da corrida eleitoral são também os campeões da rejeição entre os eleitores, o quadro dá margem a perspectivas ainda mais preocupantes. É diante desse cenário incontornável de dificuldades que até as apostas dos agentes do mercado financeiro em um destravamento da economia a partir da vitória do candidato outsider Jair Bolsonaro, estão passando por revisão, depois das reações eufóricas com sua vantagem nas pesquisas de intenção de voto.

A crise chegou até à prostituição. Acredite: agora tem programa parcelado no cartão.

A crise chega a todos os setores da economia. Inclusive à poderosa indústria do sexo. O portal Metrópoles analisa, hoje, que diante dos altos índices de desemprego no país e com a recessão econômicaprostitutas usam a criatividade para sobreviver aos tempos difíceis. Promoções, pagamento parcelado no cartão de crédito e até rifas fazem parte das estratégias adotadas pelas profissionais do sexo a fim de garantir o sustento.

A presidente da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), Cida Vieira, 48 anos, 22 deles como garota de programa, relata como ela e outras colegas de profissão têm se virado.  “A crise é geral e o mercado do sexo não ficou de fora. Negociamos pesado, damos desconto e trabalhamos mais. Não falta cliente, mas eles querem pagar menos”, afirma.

Em Belo Horizonte, garotas passaram a aceitar parcelamento no cartão de crédito, a depender do valor do serviço. Elas também criaram um tipo de “cartão fidelidade”. “O cliente que vai três vezes na semana, por exemplo, paga mais barato pela hora. Ele não fica sem se divertir e a mulher não perde o dinheiro”, diz Cida. Veja a matéria na íntegra clicando aqui.

Pelo jeitão que a banda toca, vai piorar muito ainda antes de melhorar.